O lugar mais democrático da minha Terra

 Na minha terra, Abaetetuba, existe uma beleza que não consigo descrever, mesmo que tente. O porto amigo, aonde as pessoas se falam como se se conhecessem por muitos anos. Talvez o lugar mais democrático da minha cidade. Pessoas que saem, pessoas que chegam usando os mais diferentes meios de transportes, transportam nossa alma para o mais bonito lugar do firmamento. O povo se conhece no olhar de cada um e se vê cercado de amigos, mesmo desconhecidos há instantes, mas logo se abraçam como velhos companheiros. É bonita a frente da cidade. Um desalinho arrumado que lhe dá um colorido que só perde para o do pôr-do-sol nos seus finais de tarde. Aliás, para quem não viu ainda, Abaetetuba tem um dos mais bonitos pores-do-sol de toda a região em que se situa. No rio, a canoa espera pacientemente por seu dono. O dono dela, pacientemente bebe sua cachaça nos botecos, cercado de amigos. Os amigos, sabendo que nunca chegam cedo a casa, mandam a "bóia" do almoço pelos "batalhadores de bicicletas"- o táxi mais barato da cidade - e com a certeza de que a comida chegará inteira em casa. Às vezes eu pergunto a mim mesmo: o que será que Abaetetuba fez de bom ao meu bom Deus para merecer assim essas dádivas que são únicas e que prendem a todos nós e os que aqui se aprochegam. Minha querida Abaetetuba. Olha que a vida que tu levas é tão bela que nos sentimos perdidos, quando distante estamos, na hora crepuscular da Ave-Maria. A canoa no porto representa a nossa marca de homens que pacientemente aguardam a hora da verdade, não se importando se na sua cuia de açaí, sorvido paulatinamente, esteja o nosso sangue derramado, na parceria de um belo peixe moqueado, do tipo mapará do nosso ou da ameaçada caça, a capivara. E a canoa sonolenta e vazia, apenas ouve das pessoas seus lamentos e suas vitórias, no vai-vem sob a ponte de madeira. NL