Marombas de Abaetetuba: realidade social

18/01/2011 18:40

 O cenário da triste realidade vivida nas pequenas fábricas de tijolo e telhas (olarias) espalhadas nos rios do interior de Abaetetuba foi descortinado ao público nacionalmente por reportagens feitas pela imprensa no começo de 1999. O que mais chamava a atenção não era a fabricação artesanal, sem recursos, familiar, de subsistência. Cenas de crianças mutiladas, sem dedos, sem mãos e até mesmo sem os dois braços comoveram a opinião pública e chamaram a atenção para este grave problema social. As olarias de Abaetetuba, como muitas outras no interior do Estado, utilizam uma máquina primária para a fabricação de tijolos. São as chamadas marombas. Equipamentos cilíndricos que possuem em seu interior um eixo helicoidal (rosca sem fim). O eixo é acionado por um motor, fazendo a saída forçada do barro ou argila, usado na produção dos tijolos. As marombas são alimentadas manualmente por uma abertura na carcaça. Com o desgaste do helicoidal, é necessário, é necessário pressionar o barro, para que não retorne pela folga que fica entre o eixo e a carcaça da maromba. Esse trabalho é feito pelos oleiros com as mãos ou com os pés. Qualquer descuido faz com que a parte do corpo seja puxada e triturada pela rosca. Como são fábricas de caráter familiar, é comum as crianças trabalharem nas marombas junto com os pais, para ajudar no insuficiente orçamento familiar. Ou até mesmo brincarem perto das rústicas máquinas. Por isso, são as crianças as principais vítimas desse processo. No começo de junho de 1999, funcionários da Albrás, empresa localizada no município de Barcarena, através do Programa CCQ (Círculos de Controle de Qualidade), já tinha desenvolvido algumas alterações para evitar o contato das mãos com o helicoidal. Quatro dispositivos foram adaptados experimentalmente em uma olaria. O equipamento aprovado foi padronizado e instalado nas demais olarias do município. A solução é simples, prática e de baixo custo. Utilizando materiais que não são mais usados pela indústria de alumínio, mas úteis para outras atividades, os empregados da Albrás desenvolveram um dispositivo composto de uma tampa com cabo de metal que é fixado no corpo da maromba. Em movimentos de abrir e fechar, a tampa evita que sejam usados pés e mãos para empurrar a argila. Além da instalação do equipamento é necessária a recuperação do helicoidal, para que o barro não retorne pela abertura. Essa recuperação e o dispositivo de segurança praticamente eliminam o risco de acidentes, oferecendo maior segurança. A solução encontrada aumentou em mais de cinco vezes a produtividade das olarias.

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